quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SOU O SENHOR TEU DEUS

Fui teus olhos e os teus passos
quando achou estar perdida naquele labirinto
chamado V I D A
Te reguei e fiz sombras
naquele deserto de amarguras
Fui teu abrigo e teu consolo
quando suas lágrimas viraram chuvas
Fui teu escudo e teu guerreiro
nas batalhas oriundas do ódio.
Fui teu precipício
para saberes que um passo em falso
podes por tudo a perder.
Fui teu para-quedas para crêr
que sou teu socorro
até quando não há mais esperanças.
Nem mil velas ou mesmo o sol
irá iluminar eu caminho
se eu não permitir.
Por todo ouro, por todo prazer
não te trará alegria duradoura.
Quando o medo te aprisionou
intercedi e te dei liberdade.
Quando a inveja inibiu sua beleza
fui teu espelho e tua maquiagem.
Quando achou a vida sem graça
fui teu arco-íris e teu brinquedo.
Tapei seus ouvidos contra as injúrias
e fui seu dicionário pra elogiar
a quem mereceu.
Fui seu amigo fiel e te dei colo
pra ouvir seus lamentos.
Fui seu leito mais quente
e o médico mais capaz
quando pensou na morte.
Te dei o sono mais profundo
quando seu corpo se viu sem energia.
Fui e Sou tua fome e tua sede,
o brilho do teu dia e a prateada lua que te vigia
o amor mais terno e o sustendo da tua família.
Se ainda tens dúvida quem sou ?
-- EU SOU O SENHOR TEU DEUS,
O TEU CRIADOR, QUEM PÕE AR NOS PULMÕES.

Léo Rocha

Rios Que Viraram Chuvass

Hoje o sol não veio
preguiçoso como nunca
se deixou cobrir por nuvens turvas,
tão carregadas como jamais havia visto,
tão negras que mais parecia noite.
Sentei-me na velha cadeira de ferro
na parte da varanda onde avistava
um jardim colorido pela pimavera,
foliava um jornal antigo
que o vento que já amanhcera forte
arrancou da prateleira.
As crianças brincavam na rua
chutando sua bola ou soltando suas pipas,
uma mulher debruçada na janela
observava o vizinho lavando o carro recém-comprado,
dava pra ver seus olhos fixos
como quem mira uma maça ao ter fome.
Sem pressa ou motivos
fui até a sala acender mais um cigarro,
quando vi rasgar no céu um clarão,
que segundos depois deu-se num estrondo,
o bichano que dormia,
assustado feito quem está devendo
correu e se enfiou debaixo do sofá.
Sem perder tempo
o céu veio a quase desabar em chuvas
corri pra tirar as roupas que secavam no varal,
as crianças até ameaçaram dançar e pular
mais a tempestade que caía, fizera
serem repreendidos por seus pais
os relampagos e trovões estavam de colocar medo.
E choveu em minutos
o que não tinha chovido em quase 3 meses
e choveu... e choveu.... e choveu torrencialmente.
Logo as ruas mais pareciam lagos
as casas mais pareciam parte do lago
subitamente as águas iam subindo
e ocupando lugar de onde se via terra.
A praça que tinha no largo
mau se via o balanço
o campinho onde se brincava futebol
via carros boiando, misturado a galhos,
lixos e o que mais a força das águas conseguia levar.
Ouvi gritos de pavor
meus olhos em harmonia com os ouvidos
procuravam a quem se desesperava,
logo avistei uma mulher que morava na parte mais baixa da rua
a berrar, abraçada à geladeira que vazava pela porta dos fundos.
Homens e mulheres guerreiras
a tentar salvar seus bens
uns levantavam o mais alto que podiam,
outros carregavam pros terraços,
e quem não tinha o que fazer
somente chorava.
Os sentimentos de angustia,tristeza,dor
se via em cada olhar, mais também se via
a solidariedade, afeto, compaixão, garra, superação.
Todos se ajudando, todos se consolando, todos trabalhando.
Finalmente a chuva deu uma trégua
mais altura da enchente era de dar dó,
alguns ficaram ilhados,
e outros tantos desabrigados.
Da minha varanda não se via mais o jardim colorido
nem o parque, nem os sorrisos, nem o carro novo do vizinho,
do bairro onde moro
só restou um grande e tristonho lago.




Léo Rocha


De alguma forma quero gritar socorro ...